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domingo, 17 de agosto de 2008

O amor romântico e a prática social: a herança medieval



Desde a Grécia antiga, o amor era compreendido como um sentimento unificador, sublime. Para Platão, o amor é falta, necessidade, desejo de conquistar e preserva o que se conquistou; o amor é dirigido à beleza, aparência do bem; em Aristóteles, o amor sexual é uma afeição capaz de conduzir à amizade; de forma geral, para os filósofos, ninguém seria atingido pelo amor se não fosse ferido pelo prazer da beleza.
Durante a Idade Média, o amor passou a ser considerado uma virtude própria daqueles que viviam nas cortes, portanto enquanto cortesia seria uma virtude essencialmente laica própria de reis e príncipes, habitantes dos castelos que se multiplicaram no século XII.
O camponês não amava, de acordo com o conceito medieval de amor pois o amor cortês era uma cultura das elites, era a expressão do refinamento dos costumes através da polidez, da arte de viver, da sociabilidade e, principalmente, da fina educação do homem para com a mulher.
Saber expressar o amor de forma gentil, essa foi a principal fase da transição do homem-guerreiro para o homem-cortesão. Essa revolução silenciosa e amorosa foi tão marcante no imaginário do ocidente que os termos que expressam hoje o nosso “amor romântico” e o ambiente de sedução que definem o envolvimento entre duas pessoas de sexos opostos surgiram na primeira metade do século XII.

Para Howard Bloch, pesquisador e crítico do amor cortês, a noção de fascinação romântica que controla o que dizemos hoje sobre o amor, o discurso dos amantes, as ações e negociações das relações amorosas com o social, o imaginário erótico e até as escolhas feitas por nós não existiam na tradição judaica, germânica, árabe ou hispânica, são próprias do século XII, do momento em que o guerreiro torna-se cavalheiro.

O nascimento do amor no século XII, foi um dos melhores legados que a Idade Média deixou para os tempos seguintes. A analise mais cuidadosa o períodos pode ser feita com base documental em algumas passagens de poesias líricas trovadorescas - sabemos da existência de quatrocentos e sessenta trovadores -, a obra de André Capelão (Tratado do Amor Cortês , c. 1186), algumas passagens dos Lais de Maria de França (contos em versos octossilábicos do século XII) ; três iluminuras do Livro de Canções de Heidelberg (Codex Manesse, do século XIV) e uma tapeçaria alemã (c. 1320-1330) intitulada Maltererteppich.

É evidente que buscar a vida real tanto através da prosa e da poesia quanto das imagens é sempre uma dificuldade. Duas questões se colocam diante do historiador: até que ponto elas retratam a realidade da época? Textos literários e (imagens) podem servir de parâmetro para o historiador que busca a existência concreta da vida humana? Marc Bloch já vislumbrou esse delicado problema. E ofereceu uma resposta: embora a poesia medieval tendesse a dissociar-se do “sentimento da carne”, ela não impediu que homens - e mulheres - continuassem a se satisfazer “assaz brutalmente” . Com certeza, a literatura diz muito sobre as atitudes e as aspirações humanas, do mesmo modo que as imagens.

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