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terça-feira, 12 de agosto de 2008
Nos caminhos de Nefertite
Embora sejam poucos os dados históricos disponíveis, os indícios sugerem que Nefertiti foi uma mulher de personalidade marcante, criativa e cheia de engenhosidade, que teve participação ativa nos eventos político-religiosos da XVIII Dinastia. É preciso fixar-se no fato de que esta dinastia marcou o início do período mais brilhante do antigo Egito, um renascimento sem precedentes, o chamado Novo Império (1570-1085 AC). Entre seus governantes sobressaem os nomes de Hatsheput, Thutmose III, Akhenaton, Seti I e Ramsés II.
Também, é preciso entender que no antigo Egito a figura político-religiosa central era o Faraó, que exercia sua autoridade máxima, inspirada no ensinamento e no poder dos deuses, dos quais se considerava um filho. O Faraó, em poucas palavras, era o Estado, a concentração do poder num só homem, um deus vivo. Foi o caso de Amenofis IV ou Amenothep IV, como era chamado no início de seu reinado, e que mais tarde mudou seu nome para Akhenaton. Este Faraó da XVIII dinastia, esposo de Nefertiti, desde cedo, empolgado por ideais revolucionários, assume como sacerdote supremo do novo deus-sol, Aton, e por ele instituído como uma divindade única e absoluta. O jovem Faraó deificava assim a luz do sol ou o seu calor vital como fonte de toda a vida. Bem cedo ficou claro para a casta dominante dos sacerdotes que Amenofis estava expulsando o antigo e tradicional deus Amon com todo o séquito de deuses subalternos. Criou-se assim, e isso é fantástico, a primeira religião monoteísta da civilização.
Como era de se esperar, um conflito implacável entre os poderosos, sacerdotes politeístas e o Faraó de um deus único, tornou-se inevitável. Amenofis, radical, muda seu nome para Akhenaton - "benéfico para Aton" - e funda a nova cidade de Akhenaton (atual Tell el-Amarna, ao sul de Tebas). Tamanha revolução, violentando todas as tradições mais antigas e sagradas do Egito, deve ter sido uma experiência devastadora para o jovem soberano e sua esposa.
A importância de Nefertiti na vida político-religiosa se fez sentir desde cedo: Akhenaton construiu vários templos, dois deles dedicados a ela. Este foi um episódio inusitado para uma época na qual o poder político-religioso da mulher era praticamente inexistente. Em toda a história do Egito faraônico, que compreendeu 2.500 anos, apenas quatro mulheres reinaram com poderes absolutos de Faraó, em contraposição aos 123 Faraós homens. Foram elas: Nitokris, da 6ª dinastia; Sober-Nofru, da 12ª dinastia; Hapschepsut, regente de Thutmosis III, e depois rainha por vinte anos e Tawosret, regente de Siptaah, e que assumiu o poder após a morte do pequeno Faraó. Merece menção o fato de que as duas primeiras rainhas mencionados reinaram ambas em épocas tormentosas, quando o poder central ameaçava escapar.
Na proporção mencionada de Faraós homens e Faraós mulheres, fica claro que, no ápice da pirâmide social, o homen ocupava um lugar predominante, não existiam direitos iguais na sucessão de regência para príncipes e princesas da casa real. Enfim, uma sociedade machista por excelência, na qual as mulheres não formavam um grupo próprio e definido sob o ponto de vista sócio-econômico; aparecem juntas com pais, irmãos, marido e filhos e sem projeção social. Dependem do status do homem. O conceito "mulher", como figura social dominante, praticamente não existia. Neste clima, pois, patriarcal, o fato de o Faraó dedicar dois templos à Nefertiti, uma mulher, é algo extraordinário e jamais visto até então. É por essa razão que Ray Smith, arqueólogo da universidade da Pensilvânia, escreve dizendo que "a influência de Nefertiti sobre seu marido não encontra similar na História do Egito". A biotipologia fornece outra pista interessante para ressaltar o poder de Nefertiti sobre o Faraó: enquanto a sua estatueta sugere uma mulher de caráter forte e independente, a arte mostra Akhenaton como um homem de crânio disforme, corpo andrógino, músculos murchos e barriga estufada.
Akhenaton e Nefertiti foram os primeiros idealistas uma longa série de revoltosos contra a tradição e contra a aceitação cega do passado. Contudo é apenas Akhenaton que é citado na literatura como o 1º regente monoteísta da história, o primeiro profeta do internacionalismo e a figura mais proeminente do mundo antigo antes dos Hebreus. Seu monoteísmo foi genuíno e inovador e, talvez, por isso mesmo, suas reformas religiosas foram detestadas. A revolta da Akhenaton custou caro, e as tentativas de esmagar o poderoso sacerdócio fracassaram. Suas cidades, seus ideais, seus templos, Aton, todos foram arrasados e o culto de Amon com os seus deuses satélites foi restabelecido. O fim de Akhenaton e de Nefertiti ficou mergulhado em denso mistério e nada se sabe dos pormenores da sua morte. Simplesmente desaparecerem, após trajetória fulgurante que marcou importante período da história da civilização.
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